quinta-feira, 11 de junho de 2009

Os livros da nova era

"Que a informática dominará o mercado editorial, ninguém discute. Assim como já podemos "ler" um livro pelo toca fitas do carro, muito em breve será possível devorar um Jorge Luis Borges através da tela do computador. Outro dia, conversando com um editor, fui devidamente catequisada: o livro como o conhecemos hoje, feito de papel, está condenado. Abram alas pro livro digital!" O texto foi retirado do livro TOPLESS de MARTHA MEDEIROS (outubro 1995, p 35-37). A autora escreveu em 1995. Hoje finalzinho de 2008 vamos ver o que mudou. Os livros de papel continuam, mas os livros virtuais já chegaram. As pessoas estão estudando através dos dois meios. Ela continua escrevendo... "Diante desta profecia desanimadora, recorri aos clichês de praxe: como levaremos o livro para a praia, para a cama, para a rede? Elementar, minha cara Neandertal, respondeu o editor. O computador não será o trambolho que conhecemos hoje. As telas serão menores do que uma calculadora do bolso e poderão ser acopladas nuns óculos, por que não? Seja feita a vontade do Bill Gates. Mas, no que diz respeito, não vou deixar meus livros virarem peça de museu. O livro não é um produto descartável: usou, jogou fora. Nunca fiz isso nem com namorado, imagine com um livro, que é muito mais útil." Dialogando... Também nunca joguei um livro fora, mas os livros virtuais também não serão jogados fora. Vamos guardá-los em CDs Pendrivers etc. Vamos guardar. Nada de jogar fora. Podemos guardar até em um endereço de e-mail. Ler de qualquer lugar. Em qualquer computador. Fascinante!
Martha continua...
Existe uma sensível diferença entre gostar de ler e gostar de livros. Muitos dos que se incluem no primeiro grupo lêem apenas revistas, manuais de instrução, outdoors, bulas de remédio, encartes de discos, volantes distribuídos em sinaleiras e um que outro best-seller, tudo em nome da informação. Nada contra, antes isso do qeu ser analfabeto.
E há os fanáticos. Aqueles que têm com o livro uma relação íntima, quase religiosa, e que não deixam pra abri-lo só quando a tevê está estragada. Eu por, exemplo, gosto do cheiro dos livros. Gosto de interromper a leitura num trecho especialmente bonito e encostá-lo contra o peito, fechado, enquanto penso no que foi lido. Depois reabro e continuo a viagem. Gosto de sublinhar as passagens mais tocantes. Gosto do barulho das páginas sendo folheadas. Gosto das marcas de velhice que o livro vai ganhando: orelhas retorcidas, a lombada descascando, o volume ficando meio ondulado com o manuseio. Tem gente que diz que uma casa sem cortinas é uma casa nua. Eu penso o mesmo de uma casa sem livros. É como se fosse habitada por pessoas sem imaginação, que não tem histórias pra contar. Prefiro casas assombradas pelos fantasmas de Virginia Woolf, Monteiro Lobato, Dorothy Parker. Prefiro até mesmo um Paulo Coelho jogado em cima do sofá do que a almofada comprada em Santiago de Compostela, vejam a que estado cheguei.
Reconheço que esta minha resistência à tecnologia é antiga e inútil. Até hoje morro de saudades das charmosas máquinas de escrever manuais, com seu tlec-tlec-tlec, o chão lotado de papéis amassados e um cigarro abandonado aceso no cinzeiro. Acho a cena romântica à beça, eu que nem fumo ( tive que abrir esse parênteses para fazer o comentário...que idéia mais maluca!)
Não nego que viver sem computador, hoje, é o mesmo que viver sem geladeir. Mas não consigo imaginar o livro deixando de ser um objeto para ser um equipamento. O livro podendo ser apagado. As livrarias se transformando em lojas de disquetes. Todos os volumes de uma biblioteca cabendo numa única gaveta. Como serão as sessões de autógrafos? Que graça terão as aulas de inglês, so book não estará mais on the table?
Que venham as Bienais e Feiras do Livro cibernéticas, mas não se apressem por minha causa. Folhear um livro como o mouse não haverá de ser o meu hobby preferido.

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